Novas tecnologias mudaram o mundo
Francis Bogossian
Engenheiro
Nos últimos 20 anos o mundo passou por uma transformação completa na área das telecomunicações. O telex já é peça de museu e o telefone fixo está caminhando para lá. Mesmo o telefone celular já está sendo ultrapassado pelos aparelhos “smartphones” que não apenas falam, mas também recebem e enviam dados.
É difícil para a nova geração entender o mundo sem os recursos de comunicação imediata que temos hoje. Mensagens instantâneas e envio de fotos através dos celulares são hoje tão comuns para a juventude como foi o telefone fixo no Século XX. É inimaginável lembrar dos telefones de manivela operados por telefonistas no interior do país nos anos 50 e também esperar horas para se completar uma ligação internacional como acontecia nas décadas de 60/70.
A força das comunicações pode ser comprovada com o recente terremoto no Haiti quando, pouco tempo depois do ocorrido, mensagens e imagens do terremoto foram transmitidas ao mundo, dando a dimensão da tragédia.
No Brasil, quando as telecomunicações foram privatizadas, em 1998, as metas eram vinculadas à ampliação das redes de telefonia fixa e pública. Nestes 12 anos o perfil do consumidor brasileiro também mudou. O telefone celular veio complementar o telefone fixo. Hoje, no Brasil, a proporção é de 22,7 telefones fixos para 86,7 telefones celulares por cem habitantes. Os serviços de transmissão de dados, que praticamente não existiam na época da privatização, hoje são amplamente utilizados por grande parte da população.
Este crescimento se deu sem uma fiscalização mais efetiva da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) porque o serviço de telefonia móvel (SMP) não é considerado um serviço público no Brasil. Com isso, não é passível de fiscalização nos níveis de universalização, qualidade, desempenho, continuidade de serviço, nível de tarifas etc.
Quatro operadoras de celulares (Serviço Móvel Pessoal – SMP) têm a participação de 99% do mercado brasileiro e todas se caracterizam pela baixa qualidade dos serviços. Esta pode ser a explicação para o pequeno número de consumidores que mudaram de operadora depois de entrada em vigor, em 2009, da lei que permite a troca de prestadora de serviço, mantendo o mesmo número do telefone.
Não apenas o serviço de atendimento ao consumidor mas principalmente a qualidade do sinal de transmissão deixa muito a desejar. Os investimentos das empresas em tecnologia não estão acompanhando o crescimento acelerado do número de usuários da telefonia móvel, com o aumento da demanda por banda larga. Segundo dados da Aneel, em 2008 eram 2,7 milhões de usuários e no final de 2009 este número passou para 8,6 milhões, ou seja, um aumento de 211,63%.
As empresas precisam investir para oferecer melhores serviços, atualizar suas redes e atender ao consumo crescente. Novas tecnologias já estão disponíveis no mercado internacional e devem ser empregadas no Brasil, não apenas para melhorar o serviço, como também para baratear o custo para o consumidor. À Anatel cabe definir os novos parâmetros, mas é indispensável que os serviços de celular e banda larga também sejam considerados públicos como, por exemplo, o telefone fixo e a energia elétrica, de forma que a qualidade dos serviços possa ser fiscalizada com mais rigor pela agência reguladora.
Francis Bogossian é presidente do Clube de Engenharia e da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ)
Sexta-feira, 29 de janeiro de 2010 – Pág. A-11