Grande desafio é resgatar a Cidade Maravilhosa

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Jornal do CommercioOpiniãoA-1915/10/2009

Grande desafio é resgatar a Cidade Maravilhosa

Francis Bogossian,
engenheiro, presidente do Clube de Engenharia
e da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ)

A atuação conjunta dos governos federal, estadual, municipal e da iniciativa privada foi fundamental para que o Rio de Janeiro conquistasse a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, que vêm culminar os grandes eventos esportivos que acontecerão na cidade nos próximos anos. Em 2011 teremos os Jogos Mundiais Militares, em 2013 a Copa das Confederações e, em 2014, a Copa do Mundo.

O grande desafio, no entanto, será transformar o Rio de Janeiro novamente na Cidade Maravilhosa. Os que foram capazes de conquistar a realização dos Jogos Olímpicos de 2016 para a cidade precisarão, agora, mostrar que são capazes de executar o projeto. Não apenas para atender às exigências do Comitê Olímpico, mas, principalmente, para a população carioca e fluminense.

A imagem do Rio de Janeiro é tão forte que não sucumbiu ao abandono a que foi relegado por quase 40 anos. Para quem desembarca no Rio pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim é difícil acreditar que está chegando na Cidade Maravilhosa, a começar pela precariedade do aeroporto, seguida pela visão do Hospital do Fundão, caindo aos pedaços, pelo mau cheiro e pela poluição do Canal do Cunha e, completand,o com as favelas, que se estendem até onde a vista alcança, em todo o trajeto da Linha Vermelha.

As Olimpíadas podem ser a redenção da cidade, e não podemos deixar passar essa oportunidade sem ganhos reais para o Rio. Nos Jogos Pan-Americanos de 2007 provamos que somos capazes de organizar um evento de grande porte. Mas qual foi o ganho real para os cariocas depois do evento? Equipamentos esportivos subutilizados.

Quando o Rio foi escolhido, em agosto de 2002, para sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007, uma série de melhorias foram anunciadas para a cidade: a construção do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) entre a Barra e a Penha e depois até a Baixada, passando pelos aeroportos Tom Jobim e Santos Dumont; a duplicação do túnel Zuzu Angel (Lagoa-Barra); a construção do Túnel da Grota Funda, ligando o Recreio dos Bandeirantes a Guaratiba; a duplicação da Av. Niemeyer; a construção de uma via expressa na Av. Brasil etc.

Nenhum desses projetos saiu do papel! O que a cidade ganhou no período do Pan 2007 foi uma linha vermelha pintada nas principais vias da cidade demarcando a faixa de trânsito exclusivo para as delegações.

Agora é o momento de dar a volta por cima. Pela primeira vez os três poderes estão alinhados no projeto comum de resgatar o Rio de Janeiro. É urgente que estabeleçam um plano de ações possível de ser executado, com projetos cuidadosamente elaborados para que não venham a sofrer interrupções por falta de licença ambiental, desapropriações e questionamentos dos tribunais de contas ou do Ministério Público. Não temos muito tempo pela frente. Obras de infraestrutura demandam tempo, não apenas de execução mas também para cumprir os prazos exigidos pela lei de licitações públicas. É vital estabelecer as prioridades e começar já!

Uma linha de metrô não se constrói com rapidez. Haja vista que a Linha 1 do Metrô começou a ser construída na década de 70 e só no final deste ano será concluída, com a inauguração da estação da Praça General Osório. Em 1998 o metrô chegou à Praça Cardeal Arcoverde. Em 2002 foi inaugurada a estação Siqueira Campos, e só em 2007 ficou pronta a estação Cantagalo. Em 11 anos, foram construídos pouco mais de cinco quilômetros de metrô.

O governo do Estado agora anuncia a extensão da Linha 1 até a Gávea e a construção da Linha 4, da Gávea até a Barra. Quando vai começar e quando ficará pronta?

É verdade que nos últimos anos o ritmo das obras públicas no Rio de Janeiro ganhou novo impulso com a parceria entre o governo do Estado do Rio e o governo federal e agora também com a Prefeitura do Rio.

Grandes intervenções estão sendo feitas nas maiores favelas do Rio. Várias ações na área de saneamento já reduziram consideravelmente os níveis de poluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, mas muito ainda precisa ser feito para despoluir as lagoas da Barra da Tijuca, a Baía de Guanabara e as praias do Rio. No plano viário, no entanto, os projetos continuam só no papel. Como os turistas que desembarcarão dos transatlânticos ancorados no Porto do Rio conseguirão chegar à Barra da Tijuca? É lá que será realizada a maior parte dos eventos.

A parceria com a iniciativa privada também deve ser estimulada. Inúmeros projetos poderão ser executados através de concessões ou de parcerias público-privadas. Há interesse em investir no Rio e os governantes precisam aproveitar essa oportunidade, reduzindo a burocracia para a execução dos projetos.

Ao longo desses sete anos, o Rio precisa se transformar para que os Jogos Olímpicos de 2016 não sejam apenas mais um evento esportivo, mas o começo de uma nova era para a cidade.