“Fundações e Obras Geotécnicas” publica perfil de Francis
Perfil
Um profissional reconhecido nacionalmente
O engenheiro Francis Bogossian, nome importante na história da engenharia brasileira, conseguiu, ao longo dos anos de sua carreira, executar diferentes trabalhos e participar de forma atuante nas associações ligadas à geotecnia e à geologia.
“Construir um grupo não é apenas crescer com o outro, mas abrir mão de si em prol do bem comum”. Citando essa expressão do pintor francês Gustave Courtois, tão em voga nos dias atuais em que o modelo de gestão empresarial prioriza a valorização do trabalhador, o presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, Francis Bogossian, diz que acredita nesse princípio e procura sempre praticá-lo em suas ações, tanto na vida pessoal quanto na profissional.
Casado com a jornalista Hildegard Angel, filha da estilista Zuzu Angel, e pai de João Pedro, o carioca Bogossian, nascido e criado em Ipanema, apaixonado pelo Rio de Janeiro, sempre foi um grande admirador do pai, Jacob Bogossian, um imigrante armênio que chegou à Cidade Maravilhosa aos 15 anos de idade. O engenheiro atribui sua educação, sua formação ética e religiosa ao pai, que criou os filhos sozinho após a morte da esposa.
Formação e início da profissão
Bogossian começou na engenharia antes mesmo do término da graduação, concluída em 1965, a convite do professor de renome da engenharia geotécnica, já falecido, da Escola Nacional de Engenharia, Universidade do Brasil, hoje chamada de Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Antonio José da Costa Nunes. “Costa Nunes era catedrático de física e eu participava com ele de atividades extracurriculares ligadas à fotografia”, conta.
Em 1964, o futuro engenheiro passou a estagiar na empresa Tecnosolo S/A, em que o professor Costa Nunes era presidente e maior acionista. Aos poucos ele foi recebendo responsabilidades. Quando se formou, Bogossian já estava a quase dois anos trabalhando e, por consequência, devido aos seus bons resultados, assumiu a chefia do Laboratório Geotécnico, depois da Divisão de Tecnologia e, por fim, a Superintendência da empresa.
“Na década de 1960, quem chegava ao Colegial, hoje Ensino Médio, e queria galgar um curso superior, tinha poucas opções. Engenharia era para quem gostava de física e matemática, medicina para os simpatizantes de biologia e química e também o curso de direito. Essas eram as carreiras mais procuradas. Eu me identificava com as ciências exatas, portanto, com a engenharia, embora gostasse também de filosofia, mas as opções nessa área não prometiam carreiras de futuro”, explica.
A escolha pela profissão a seguir veio de acordo com as circunstâncias e o momento econômico que o País vivia. O Brasil crescia, na onda desenvolvimentista do governo do Juscelino Kubitschek, e a engenharia estava a todo vapor, com grandes oportunidades de emprego na área.
Segundo Bogossian, o vestibular para engenharia era muito disputado naquela época, pois só havia cursos em poucas universidades, como na Universidade do Brasil (atual UFRJ), na PUC-Rio, na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, e na Universidade do Estado da Guanabara (UEG), rebatizada depois para Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
O vínculo com a geotecnia, conta Bogossian, vem desde a época de estudante, ainda na Escola de Engenharia, quando participou da criação do Grupo de Estudos de Mecânica dos Solos (GEMSO), por volta de 1964, com o professor emérito pela UFRJ, Fernando Emmanuel Barata.
“Embora a especialidade de Mecânica dos Solos só tenha sido criada em 1968 na UFRJ, eu já havia abraçado esse ramo de atividade profissional no meu primeiro emprego, com o professor Costa Nunes”, conta.
Principais obras
De temperamento agitado, como ele mesmo se descreve, desde o início da carreira cumpre expedientes plenos de atividade na área de engenharia e também na educação. “Na empresa Tecnosolo fiquei até 1972, e ascendi profissionalmente com rapidez, tendo a oportunidade de participar dos estudos de fundações da Ponte Rio-Niterói e da primeira campanha de investigações geomecânicas para o Metrô-Rio, além do projeto do Terminal Salineiro de Areia Branca, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, dentre outros empreendimentos”, relata.
Em 1972, Bogossian deixou a Tecnosolo e fundou sua própria empresa, a Geomecânica S/A, que completará 40 anos em 2012. Ficou no seu comando até 2009, quando passou o “bastão” para uma diretoria executiva mais jovem, já atuante na empresa há mais de 20 anos.
Durante sua trajetória profissional, o engenheiro participou de diferentes tipos de projetos, tanto no estado do Rio de Janeiro quanto em outros lugares, como São Paulo, interior de Rondônia e Roraima, na Serra dos Carajás. “Embora minha empresa tenha fixado sede no Rio de Janeiro, sempre que houve necessidade foram estabelecidos escritórios regionais, do Oiapoque ao Chuí”.
Entre os trabalhos executados, destaca-se a atuação em importantes empreendimentos na engenharia brasileira, como investigações para fundações e contenções para projetos de construção civil em larga expansão no Rio de Janeiro, projetos rodoviários e de usinas para geração hidrelétrica, obras de contenção e drenagem para a Fundação GEO-RIO e outros contratantes e obras para a Ferrovia do Aço.
No início dos anos de 1980, Bogossian mostrou sua veia empreendedora e pioneira dedicando-se, juntamente com a Petrobras, após as descobertas dos campos petrolíferos marítimos, aos trabalhos de investigações geotécnicas nas chamadas águas rasas, com a criação de um equipamento denominado Sino Pneumático de Sondagem, que permitia investigar o subsolo marinho offshore sem a necessidade de contratar navios estrangeiros.
“À medida que os campos marítimos foram ficando mais e mais profundos e com o incentivo da Petrobras, conseguimos nacionalizar diversos serviços da engenharia para evitar a contratação de empresas estrangeiras”, conta.
Trajetória acadêmica e participação em associações
A trajetória acadêmica de Bogossian começou quase simultaneamente a de engenheiro. Em 1966 passou a atuar como professor de Mecânica de Solos, Fundações e Obras de Terra na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em seguida, a convite do professor Fernando Emmanuel Barata, passou a lecionar Investigações Geotécnicas na opção de Geotecnia na UFRJ, em 1968. Bogossian também foi professor na Universidade Veiga da Almeida (UVA), onde ministrou as disciplinas de Geologia e Geotecnia, chegando depois a chefe de departamento, diretor e pró-reitor de desenvolvimento da entidade.
Atualmente, Bogossian exerce o cargo de presidente do Conselho de Administração da Geomecânica e também do Clube de Engenharia, desde 2009, cumprindo um mandato de três anos. A entidade nacional, com sede no Rio de Janeiro, é a mais antiga instituição brasileira do setor, tendo sido fundada há 130 anos.
Desde 1996 o engenheiro vem sendo reeleito a cada três anos para a presidência da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (AEERJ). Ele também é vice-presidente executivo da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e participa das diretorias da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) e da Federação Brasileira das Associações de Engenheiros (FEBRAE).
Além dos trabalhos executados, Bogossian sempre exerceu atividades não-remuneradas, procurando reunir equipes que o ajudaram a desempenhar tarefas com competência.
“Minha família e amigos ainda acham que eu devia concentrar-me em ficar rico, mas esta vocação para empreender e ser útil para a sociedade, sem concentrar-me em lucros materiais, acabou por me afastar desse objetivo”, explica.
Bogossian participou ativamente da diretoria da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), sendo secretário e presidente do núcleo da Associação do Rio de Janeiro e da DTE de Mecânica dos Solos do Clube de Engenharia. Logo depois, foi eleito presidente nacional da ABMS para o período de 1988 a 1992. Também ocupou o cargo de vice-presidente para a América do Sul da International Society for Soil Mechanics and Geotechnical Engineering (ISSMGE), em 1997. “Sou membro de todas as associações ligadas à geotecnia e à geologia de engenharia e sempre participei ativamente dos diversos eventos técnicos nacionais e internacionais da especialidade”.
Espírito empreendedor e realização profissional
Em relação ao trabalho exercido durante mais de 40 anos, Francis Bogossian considera-se realizado. Orgulha-se de nunca ter atrasado uma folha de pagamento dos funcionários da sua empresa, mesmo nas situações econômicas mais difíceis que o País enfrentou, e destaca, entre as muitas realizações profissionais, as parcerias com a empresa estatal Petrobras. “Acredito que as atividades tanto como docente quanto como engenheiro, sem falsa modéstia, me tornou um profissional nacionalmente reconhecido”, ressalta também.
O professor acredita que a disposição em dedicar-se a diferentes atividades e o seu espírito empreendedor fizeram com que desenvolvesse uma sólida carreira, capaz de gerar oportunidades profissionais através da sua empresa.
“Eu poderia ter aberto um escritório de consultoria com apenas uma secretária. Assim, não teria aborrecimentos com empregados, folhas de pagamento, tributos, leis sociais, entre outras mazelas que infernizam a vida dos empresários. Mas não pensei dessa forma. Se Deus me concedeu recursos, formação e conhecimentos técnicos, eu deveria criar oportunidades de trabalho, construindo um grupo para crescer junto comigo”, afirma.
Hoje, com quase 70 anos, Bogossian se orgulha do que construiu ao longo da vida profissional e pessoal, sempre acreditando na engenharia mesmo em momentos difíceis, como uma força indispensável para colocar o Brasil em um patamar de destaque internacional.
“Não tenho arrependimentos e começaria tudo novamente, do mesmo jeito. É claro que, como ser humano, há dias que me aborreço e penso ter errado bastante, mas, na média, acredito que meu saldo de acertos é significativamente positivo”. (Revista Fundações & Obras Geotécnicas, Melina Fogaça)