Evangelho do terceiro milênio
Francis Bogossian,
empresário
Na antiguidade, as festas pagãs celebradas por ocasião de boas novas ou de notícias agradáveis ao povo eram chamadas evangélias. A igreja cristã, em seus primórdios, adotou o termo evangelho para as versões escritas sobre a vida e as doutrinas de Cristo.
As boas novas, neste início de milênio, chegam com os ventos da globalização que sopram na direção da responsabilidade social. O final do século XX ficou marcado pelas ações das empresas e da sociedade direcionadas a qualidade, segurança, meio ambiente e saúde – QSMS. Seguindo nossos históricos níveis de desigualdade social, o país transita ainda entre os extremos do trabalho escravo e de QSMS, que a Petrobras vem capitaneando.
É também a Petrobras que vem implantando, com força total, a conscientização da responsabilidade social, inicialmente no âmbito interno da empresa. E, a partir do final de 2005, exigirá de seus fornecedores e prestadores de serviço que evidenciem o cumprimento das exigências de segurança, meio ambiente e saúde (SMS) além da qualidade (Q), para permanecerem em seu cadastro.
A essência da responsabilidade social, próximo degrau a ser solicitado às empresas, é algo como um vírus a ser inoculado nos patrões e empregados, cujas conseqüências, a longo prazo, não estariam distantes do que pregam, não apenas os Evangelhos da Igreja Cristã, como as demais doutrinas de outras religiões.
Ser responsável social é assumir a consciência de que é possível mudar a sociedade, a partir de ações e comportamentos, individuais e coletivos.
É claro que ninguém há de imaginar que se trata de simples mudanças administrativas. Dependendo do estágio em que a responsabilidade social se situa dentro da organização, terá de haver uma revolução nos conceitos e práticas adotadas, muitas vezes já consolidadas, partindo da cúpula em direção aos funcionários e voltando pelo caminho inverso.
Um aspecto crucial desta caminhada em direção ao paraíso precisa ser enfocado. Assim como na gestão de QSMS, quem já foi inoculado pelo vírus da responsabilidade social sabe que a relação positiva custo/benefício, em números, precisa ser encarada a longo, muito longo prazo, ou seja, os sistemas custam extremamente caro na fase de implantação. Os investimentos iniciais são vultosos e alguém precisa bancar esta fatura. É fundamental, também, contar com a estabilidade do país, para que, ao longo do processo, não desabem os castelos.
A Petrobras tem poder, recursos e vem se mostrando disposta a enfrentar os desafios, mas sabe que a conta já está sendo alta. Tem consciência também de que este Evangelho, ao contrário dos demais, não pode ser apenas lido e meditado. Oxalá Deus continue brasileiro e possa ajudar o País neste rumo.
* Francis Bogossian é presidente da Geomecânica e conselheiro da FIRJAN-CIRJ e Clube de Engenharia.