Engenharia brasileira nasceu no Rio
Francis Bogossian
Engenheiro, presidente da AEERJ – Associação das
Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro
Em 2010 comemoram-se 200 anos da criação da Academia Real Militar do Rio de Janeiro e do nascimento da engenharia brasileira. Instalada inicialmente na Casa do Trem (atual Museu Histórico Nacional), sua sede foi transferida em 1812 para o Largo de São Francisco, em prédio construído especialmente para abrigar a escola que, em 1874, se transformou na Escola Polytechnica do Rio de Janeiro, depois Escola Nacional de Engenharia e, posteriormente, Escola de Engenharia da UFRJ. Em 1966, a escola trocou o Largo de São Francisco por instalações modernas na Ilha do Fundão.
O prédio do Largo de São Francisco passou a ser ocupado, em caráter transitório, pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Os engenheiros, no entanto, não se desligaram dele. É lá que funciona a Associação dos Antigos Alunos da Politécnica (A3P).
É lamentável ver o prédio se deteriorando em todos os aspectos. Fisicamente, é o retrato do abandono do nosso passado histórico. É urgente a restauração do prédio e seu retorno à Engenharia, para que recupere sua grandeza original.
Uma grande contribuição do Clube de Engenharia para as comemorações dos 200 anos do nascimento da engenharia brasileira seria liderar um projeto para o retorno e a restauração do prédio que foi o berço da nossa engenharia. Nada é fácil quando se trata de um bem público, mas o Rio não pode continuar a permitir o abandono de seu patrimônio arquitetônico e histórico.
O Rio de Janeiro é a cidade brasileira com mais prédios históricos, mas quase todos sob a administração federal. Por onde se olha há prédios públicos se deteriorando. Um importante passo nesta mudança foi dado pelo prefeito Eduardo Paes nos convênios que assinou com o governo federal, transferindo para o município a administração de várias áreas do Porto, inclusive o Palácio D. João VI, que será transformado na Pinacoteca da Cidade.
O prédio do Largo de São Francisco deveria abrigar o Museu Histórico da Engenharia Nacional. A UFRJ continuaria proprietária do imóvel, mas, através de convênio, passaria sua administração para uma entidade privada que poderia ser, por exemplo, o Clube de Engenharia. Com isso, seria possível não só recuperar o prédio como também se responsabilizar pela manutenção, buscando outras fontes complementares de recursos como cursos, exposições etc. Várias fontes de financiamento estão disponíveis, como o projeto Monumenta, que é um programa de recuperação do patrimônio cultural urbano brasileiro, executado pelo Ministério da Cultura e financiado pelo BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, os incentivos pela Lei Rouanet etc. Sem falar no apoio das grandes empresas que dão o devido valor à Engenharia.
Esse processo não acontece por acaso. Alguém precisa liderar o projeto e superar os obstáculos. O Clube de Engenharia, também fundado no século IXX (1880), poderia estar à frente dessa transformação para que, nas comemorações dos 200 anos do prédio do Largo de São Francisco, em 2012, o Rio de Janeiro possa inaugurar ali o Museu Histórico da Engenharia Nacional.