Educação: palavra-chave para o desenvolvimento
Francis Bogossian
Membro Efetivo das Academias Nacional e
Pan-Americana de Engenharia e
da Academia Brasileira de Educação
O maior entrave para que o Brasil dê um salto de qualidade para integrar o grupo de países do primeiro mundo tem oito letras: E D U C A Ç Ã O.
A contínua derrocada do sistema educacional brasileiro vem de um descaso de aproximadamente 50 anos. Na destinação de recursos, as prioridades se equivocaram durante o crescimento populacional ocasionado pela fantástica migração do Norte e Nordeste para os grandes centros do Sul e Sudeste brasileiros.
Faltaram recursos e vontade política para reverter a queda da qualidade do ensino. As iniciativas e promessas de palanque que, supostamente, transformariam a sociedade através da educação jamais foram assumidas.
Assim, proliferou o que chamo de “indústria da ignorância”, com apelos fortíssimos voltados para as metas eleitoreiras de uma grande maioria de políticos, raríssimas as exceções. Trata-se de um triste estímulo à ignorância voltado para o tipo de eleitor que se contenta em sobreviver, trabalha apenas para pagar a alimentação, o transporte público e a moradia. Esse ignorante deve ser preservado porque ele é mais fácil de ser ludibriado com promessas falsas, além de não cobrar resultados durante os mandatos.
A partir da década de 70, mesmo com sérias deficiências na educação básica, a demanda por cursos superiores fez crescer significativamente o número de universidades e faculdade privadas. Houve, a partir de então, um aumento fantástico de profissionais graduados por tais instituições. Isso deveria ter contribuído para a melhoria da qualidade do ensino, mas tal não aconteceu.
Hoje é muito comum, no meio profissional, deparar-se com diplomados por faculdades e universidades (3º Grau) que falam e escrevem mal, além de apresentarem deficiências de raciocínio matemático e carências de formação humanística.
O Brasil precisa de pesquisa e inovação. É quase impossível formar pesquisadores de excelência, mestres e doutores a partir de graduados que não sejam egressos de processos educacionais de qualidade, desde o ensino fundamental até os bancos universitários. Para ser inovador, além das aptidões intrínsecas, é preciso ter bases firmes e raízes educacionais fortes, o que só os bons colégios são capazes de prover.
As instituições públicas de ensino fundamental e médio, sejam federais, estaduais ou municipais, vêm se deteriorando a olhos vistos e prejudicando o acesso de seus alunos às universidades públicas. Os sistemas de cotas, em que pese o caráter de resgate sócio-racial, podem trazer más perspectivas para o ensino de qualidade nas universidades públicas de alto nível.
Não se pode fechar os olhos e permitir que a grande massa do povo brasileiro continue a deixar de evoluir em função de carências na área da educação. Não se pode deixar que o ensino de qualidade seja um privilégio da elite. Sob alegações diversas quanto a erros do passado, de cunho político, econômico e social, muitas necessidades básicas do povo ainda não são atendidas pelo poder público. A boa formação educacional, no entanto, deve ser encarada com urgência e perseverança.
Além de reformular e adequar “para ontem” a educação fundamental, o Brasil precisa capacitar profissionais de nível médio e superior plenos em suas funções para poder crescer de forma consistente.
Nos padrões de heterogeneidade do ensino superior a que chegamos, não há outra saída. Temos de partir para a exigência da Certificação Profissional, como já é corriqueiro no primeiro mundo. No Brasil, os graduados em cursos superiores precisarão também, dentro em breve, submeter-se a avaliações, aos chamados exames de ordem. Não estando aptos ao desempenho de suas funções, que sejam encaminhados para aperfeiçoar-se e prestem novos exames. As instituições de ensino superior terão de superar suas deficiências e a sociedade precisará aceitar essa nova cultura da Certificação Profissional.
O diploma do curso superior será, dentro em breve, apenas uma porta entreaberta para os profissionais, como acontece hoje com os cursos de direito. O exame da Ordem dos Advogados do Brasil é a chave que transforma bacharéis em advogados. Desde 2004, o mercado financeiro também está exigindo certificações para contratar profissionais nas instituições vinculadas ao Banco Central.
A Certificação Profissional chegará a todas as classes, como exigência individual de comprovação de qualificação para assumir cargos e funções. Os Conselhos e Ordens, que regulamentam as diversas profissões e estão atrasados, devem fugir do corporativismo e agir rapidamente para cumprir esse papel, que, com certeza, lhes cabe. Desde 2005, existe uma proposta governamental que institui o Sistema Nacional de Certificação Profissional (SNPC). O tema não pode ser adiado indefinidamente.