Caos nas estradas
Francis Bogossian, Empresário
Mais um ano chega ao fim e os investimentos em estradas continuam no campo das promessas. Há mais de 10 anos que não investe em estradas, causando grande prejuízo para o desenvolvimento do país. Agora as atenções já se voltam para 2005, com perspectiva de investimentos da ordem de R$ 6 bilhões para minimizar o caos em que se encontra o setor rodoviário. O estado das estradas brasileiras continua crítico.
Uma pesquisa rodoviária de 2004, organizada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), analisou 74.681 quilômetros de estradas em todo o país, confirmando a deficiência das rodovias brasileiras e prejudicando o desempenho e a segurança do setor de transportes.
A avaliação do cenário nacional da pesquisa, mesmo considerando as melhores condições das malhas Sudeste e Sul, resulta em situação desfavorável, em que 74,7% da extensão pesquisada apresentaram alto grau de imperfeição.
A análise comparativa do estado geral das rodovias pesquisadas registra um nítido desequilíbrio qualitativo entre as regiões. No Nordeste as péssimas condições do pavimento, da sinalização e da geometria atingem cerca de um quarto de sua extensão, ou seja, 5.258 quilômetros, contra 2.260 quilômetros no Sudeste. Estes números fazem do Nordeste a região detentora da malha rodoviária em piores condições de todo o país, o que compromete seu próprio desenvolvimento e também as possibilidades de maior integração econômica com as demais regiões.
A pesquisa resultou em alguns índices comprometedores à segurança, tanto para o transporte de carga quanto para o de passageiros: 56% das estradas encontram-se com pavimento em estado deficiente, ruim ou péssimo; 65% apresentavam sinalização em estado inadequado e 40% não apresentavam a sinalização de velocidade máxima permitida
No Rio de Janeiro, o quadro não é muito diferente. A pesquisa rodoviária da CNT avaliou 19 rodovias no Estado. Apenas quatro puderam ser consideradas ótimas: a Via Lagos, que é uma concessão privada; a rodovia Amaral Peixoto e as estradas federais BR-492, no Norte do Estado e a BR-465, a antiga Rio-São Paulo. Por outro lado, a pesquisa registrou também que cinco rodovias federais estão com estado geral ruim ou péssimo: BR-484 (Colatina / Bom Jesus de Itabapuana); a BR-356 (Campos / Itaperuna); BR-354 (Rodovia Dutra / Sul de Minas); BR-485 (Itatiaia / Barro Branco) e BR-495 (Teresópolis / Itaipava).
A pesquisa mostrou que as estradas pedagiadas estão entre as melhores do país. Não há dúvidas de que a concessão de rodovias foi uma experiência que deu certo. O Brasil é dos três países que têm mais rodovias com pedágio, logo depois da Argentina e do México. Já privatizou 5,6% da malha.
Estima-se que será possível privatizar somente de 10 a 15% de extensão total, comprovando a importância da presença do Estado, tanto para a construção de novas vias quanto para manutenção das existentes. Os resultados apurados na pesquisa da CNT mostram o descaso do poder público com este setor, não apenas pelo número de acidentes de trânsito com vítimas fatais, como também pelo custo que gera ao país. Nossas esperanças se voltam agora para 2005.
*Francis Bogossian é presidente da AEERJ (Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro)