Barreiras ao empreendedorismo brasileiro

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Jornal do CommercioOpiniãoPág. B-1103/01/2012

Barreiras ao empreendedorismo brasileiro

Francis Bogossian,      
Presidente do Clube de Engenharia
e da AEERJ – Associação das
Empresas de Engenharia do Rio de
Janeiro e vice-presidente da
Academia Nacional de Engenharia

Em um mundo globalizado, a proteção da empresa nacional não pode passar apenas pelo mercado interno. As empresas brasileiras precisam ser capazes de competir com seus concorrentes de outros países de igual para igual.

Ações pontuais, como a redução do IPI, o aumento dos impostos para produtos importados, maior participação do produto nacional nas licitações públicas e ainda linhas de crédito subsidiadas, são extremamente benéficas, mas resolvem apenas momentaneamente o problema.

O Brasil precisa pensar a longo prazo e, para isso, é necessária uma reforma estrutural e não apenas ações pontuais. Três problemas emperram o crescimento das nossas empresas: baixa produtividade dos trabalhadores brasileiros, impostos extorsivos e burocracia infernal.

A baixa qualidade do ensino brasileiro também é um antigo entrave para o desenvolvimento do país. O Brasil conseguiu colocar quase todos os seus jovens nas escolas, mas ainda não foi capaz de formá-los com qualidade. As notas dos alunos do ensino médio avaliados nas provas do Enem confirmam isto. Essas deficiências se refletem nos cursos superiores de graduação, principalmente nas ciências exatas.

Os alunos entram nas faculdades de engenharia, por exemplo, com nível baixo de conhecimento em Matemática e Física e se formam sem conseguir superar essa deficiência completamente. Isso se reflete diretamente na produtividade e na baixa capacidade tecnológica das empresas brasileiras. Um bom demonstrativo é o número de patentes de novas tecnologias registradas no Brasil, conforme revelam os últimos dados do Banco Mundial. Em 2004, foram registradas apenas 4 mil patentes no Brasil, contra 7 mil na Índia, 66 mil na China e 105 mil na Coreia. A comparação com os países desenvolvidos é covardia. O Japão, nesse mesmo período, registrou 362 mil patentes; os Estados Unidos, 185 mil.

A qualidade do ensino no Brasil deveria ganhar prioridade máxima dos três níveis de governo. Um mutirão de grandes proporções unindo governo e iniciativa privada precisa ser implantado com urgência. A formação profissional demanda tempo. As empresas são incentivadas a investir em cultura e esporte, mas não têm qualquer incentivo para investir na formação dos profissionais de que necessitam. As áreas acadêmicas e empresariais pouco se falam. Não há suficiente integração entre as universidades, os institutos de pesquisa e as empresas para o desenvolvimento tecnológico, visando aos ganhos de eficiência e produtividade para que os produtos brasileiros possam competir no mercado externo.

Outro importante fator que impede maior crescimento das empresas brasileiras é, além do extorsivo volume de recursos repassado ao fisco, atualmente na casa dos 36% do PIB brasileiro, a quantidade de taxas e impostos, com datas e percentuais diferentes em cada estado ou município brasileiro. Isso exige que as empresas gastem muita energia e pessoal na área fiscal e tributária, quando poderiam estar investindo mais em produção e tecnologia. Uma reforma tributária que venha não apenas reduzir, mas também simplificar esses processos é mais do que urgente.

A burocracia no Brasil é também, certamente, um grande entrave para a expansão e o desenvolvimento das empresas brasileiras. Pesquisa feita pelo Banco Mundial conclui, na comparação entre 200 países, que, calculando o número de dias necessários para se abrir uma empresa com 50 empregados, o Brasil fica em 192º lugar, à frente apenas de Suriname, Guiné-Bissau, Congo, São Tomé e Príncipe, Venezuela, Guiné Equatorial e Antilhas. São 120 dias para se registrar uma empresa no Brasil, ou seja, muito mais de meio ano, se considerarmos apenas os dias úteis. Entre nossos parceiros dos BRICs, o processo é infinitamente mais rápido. Na China são 38 dias; na Rússia, 30; e na Índia, 29. Mesmo em relação a nossos parceiros latino-americanos, os prazos brasileiros representam mais do que o dobro da média da região, que é de 58 dias. Sem falar nas dificuldades para se fechar uma empresa no Brasil.

O fortalecimento das empresas brasileiras e o desenvolvimento do país precisam, sem dúvida, que estes três entraves sejam desbaratados. A partir daí, o empreendedorismo dos brasileiros garantirá a competitividade de nossas empresas, tanto no mercado interno como no exterior, em posição de igual para igual com as empresas estrangeiras.

Artigo publicado no Jornal do Commercio
Terça-feira, 03 de janeiro de 2012 – Pág. B-11