A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) registrou um recorde de investimentos em 2024, com R$ 20 bilhões aplicados em infraestrutura viária. Para os próximos cinco anos, a projeção é de R$ 30 bilhões anuais, totalizando R$ 150 bilhões no período, segundo Marco Aurélio Barcelos, presidente da instituição, ao podcast EXAME Infra
“É muito factível que nos próximos cinco anos aportemos algo próximo a R$ 150 bilhões somente no setor de rodovia”, afirma.
Se confirmada, a projeção representará um salto expressivo nos investimentos. Em comparação, as concessionárias associadas ao grupo — que inclui Arteris, CCR, EcoRodovias, EPR e Via Appia — aplicaram R$ 255 bilhões nos últimos 26 anos, desde 1998.
Segundo Barcelos, a tendência de alta é impulsionada pelo otimismo com novas concessões e pela necessidade de modernizar a infraestrutura viária do país, reduzindo gargalos logísticos e melhorando a segurança das estradas.
De acordo com um levantamento feito pela EXAME, com base em informações públicas e no Livro Azul da Infraestrutura, da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), o país deve realizar um leilão a cada quatro dias ao longo deste ano.
Essa “onda de leilões” deve se estender, contudo, até 2027, avalia o presidente da ABCR com base na carteira federal. O Ministério dos Transportes projeta que, após 12 leilões em 2024, número também histórico, ocorram 17 certames de rodovias em 2025, com investimentos previstos de R$ 100 bilhões.
“Os investimentos desses leilões devem começar a sair em cinco, seis e sete anos. Podemos dizer que até o final de 2030, vamos viver um alvoroço de investimentos, demanda e mobilização”, diz Barcelos sobre o pipeline.
Ano dos leilões é um ‘problema bom’
Considerado um dos maiores nomes da infraestrutura rodoviária, o especialista também faz uma análise do impacto da quantidade recorde de leilões para este ano.
Ele prevê abertura de vagas de emprego principalmente na área de engenharia e para cargos de alta liderança, em boa parte, diz Barcelos, porque o ecossistema que orbita os projetos de infraestrutura, – formado por prestadores de serviços, fornecedores e reguladores –, não está preparado para atender a toda demanda que será provocada.
“Precisamos monitorar ‘a quantas anda’ a capacidade de engenharia do Brasil porque, verdade seja dita, a lava jato dizimou a nossa engenharia e será preciso resgatar esse pessoal. E, de outro lado, para cargos sêniores, teremos uma demanda grande e não conseguimos formar esse pessoal em curto espaço de tempo. É preciso começar a se capacitar porque haverá demanda de executivos”, diz, chamando atatenção para um ambiente desafiador.
“É um problema bom, mas é um problema e ele demanda cautela para não termos um boom de investimento e não conseguirmos ninguém. Termos uma Ferrari, em temos de investimento, e não conseguir um piloto”, diz.
Clímax do mercado de concessões
Apesar dos desafios, Barcelos também observa que esse “clímax do mercado de concessões” mostra que houve “amadurecimento” do setor desde a promulgação da Lei 9.074, que estabeleceu normas para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos e completa 30 anos no mês de julho.
“Reconhecemos disfuncionalidades e problemas, aprendemos lições e hoje temos contratos mais bem estruturados e que garantem sustentabilidade financeira, jurídica e operacional. Todo mundo consegue sai ganhando no longo prazo, porque o modelo de negócio para de pé e tem uma matriz de risco mais bem elaborada”, afirma.
De acordo com dados da ABCR ao podcast EXAME Infra, o ano de 2024 foi fechado com mais de 30 mil quilômetros de rodovias concedidas. A previsão é que esse número dobre até 2030, chegando a 60 quilômetros.
As concessões, ainda segundo Barcelos, ganham confiança à medida que oferecem serviços melhores. Uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada em novembro do ao passado, apontou que para 63,1% as rodovias concedidas são ótimas ou boas. Enquanto nas públicas, essas avaliações somam 22,7% do total.
“A pesquisa avalia basicamente três aspectos: a geometria da via, o que significa curvatura, as ladeiras e ela analisa as condições do pavimento e sinalização. Podemos dizer de longe que, quanto a esses três aspectos, as rodovias concedidas, têm larga vantagem”, diz Marco Aurélio Barcelos.”
Fonte: Exame